"There is a kind of lazy pleasure in useless and out-of-the-way erudition" - JLBorges Arte,história,ciência e cultura em pequenos rectângulos perfurados
Rafael, figura maior do Renascimento, ombreando ao lado de Miguel Angelo e Leonardo da Vinci na trindade suprema das Belas Artes.
Na sua curta, mas prolífica, existência conseguiu ascender aos píncaros da notoriedade angariando o patrocínio dos poderosos da sociedade romana e do papado.
Rival de Miguel Angelo, com quem disputou os previlégios do Vaticano tendo com ele partilhado a execução dos monumentais frescos da Basílica de S Pedro. Se os frescos da Capela Sistina imortalizaram a singularidade e mestria de Miguel Angelo, os frescos da Stanza della Signatura (Escola de Atenas e a Disputa) entre outros não lhe ficam atrás.
Metódico e empreendedor dirigiu o seu próprio atelier onde formou vários artistas que também colaboraram nas suas obras de maior envergadura.Entre estes se destacou Giovanni da Udine que é co-autor dos frescos da Loggia (arcada aberta) Cupido e Psique da Villa Farnesina ( aconselho vivamente ao site aqui destacado onde podemos fruir da digitalização dos frescos da Loggia)
No selo aqui reproduzido apresenta-se um dos inúmeros estudos preparatórios onde se ilustra bem a delicadeza, a luminosidade e volume das figuras de Rafael.
Este desenho é propriedade do Museu do Louvre e o selo foi emitido em 1983 por ocasião da comemoração dos 500 anos do nascimento de Rafael
A fábula Cupido/Eros e Psique é retirada da obra "Metamorphoseon" de Lucius Apuleius, escritor latino do séc II d.c. É um tema que de forma recorrente inspirou múltiplas obras ao longo dos séc XVI a XIX.Rafael narra os episodios da fábula, no teto da "loggia" da Villa Farnesina, de uma forma circular, no sentido dos ponteiros do relogio, divididos pelas colunas e os episódios finais, mais complexos representados no centro da abóboda.
O enredo de inspiração mitológica conta a historia de Psique, filha mais nova de um rei, rapariga de extraordinária beleza, venerada como deusa pelos súbditos do reino, ao ponto de despertar a inveja da deusa Vénus/Afrodite.Esta ordena a seu filho Cupido/Eros que a trepasse com a sua flecha de forma a que ela se apaixone pela criatura mais horrível da terra.Mas Cupido falha o alvo e fere-se na sua própria flecha ficando assim ele apaixonado por Psique.Ao tomar conhecimento da relação amorosa Vénus vai ao encontro de Psique, com autorização de Jupiter e obriga Psique a realizar várias tarefas impossíveis, que Psique consegue concluir.A última delas constava em descer ao submundo de Hades/Plutão e recuperar um pouco da beleza de Proserpina/Persefone num pequeno frasco de vidro e entregá-lo a Vénus (é o encontro de Psique a entregar o pequeno frasco a Vénus que está representado no desenho de Rafael reproduzido no selo apresentado)
Divindade romana, filha de Ceres, deusa da agricultura, resulta da helenização de uma anterior divindade da plebe romana, Libera, deusa do vinho.Os seus equivalente na mitologia grega são Perséfone e Demeter.
A figura central do mito que explica a formação das estações do ano, Proserpina colhia flores nas margens do lago Pergusa (Sicilia) quando Plutão, deus do sub-mundo, emerge do vulcão Etna conduzido por 4 cavalos negros, raptando-a fazendo dela sua esposa.Sua mãe, Ceres, procura-a desesperadamente, recusa regressar ao Monte Olimpo, vagueando sobre a terra transformando em deserto tudo por onde passa.Jupiter ordena que Plutão devolva Proserpina à superficie.
Plutão, numa ultima tentativa de reter a sua amada, convence Proserpina ingerir seis bagos de romã, pois todo aquele que ingerisse alimentos dos mortos não poderia regressar ao mundo dos vivos.Por intervenção de Júpiter ficou decidido que Proserpina passaria seis meses com Plutão e os restantes 6 meses seriam passados com sua mãe Ceres
Os seis meses que Proserpina passa no sub-mundo correspondem ao outono/inverno quando Ceres, deusa da fertilidade e da agricultura, deixa a terra ao abandono.Nos restantes meses primavera/verão, Ceres rejubila, repovoando a terra de prados verdejantes e douradas searas.
Este mito inspirou pintores e escultores ao longo dos séculos, de Bernini a Rubens e Durer.Na literatura Ovideo (sec I) e Claudio (sec V) eternizam o mito nas suas obras poética, mais tarde recriados por Goethe e Swinburn.
Dante Rossetti,pintor pré rafaelita, produziu um retrato moderno, proto simbolista de Proserpina.
Rossetti era também poeta e inscreveu na tela e na moldura um poema da sua autoria :
Afar away the light that brings cold cheer
Unto this wall, - one instant and no more
Admitted at my distant palace-door.
Afar the flowers of Enna from this drear
Dire fruit, which, tasted once, must thrall me here.
Afar those skies from this Tartarean grey
That chills me: and afar, how far away,
The nights that shall be from the days that were.
Afar from mine own self I seem, and wing
Strange ways in thought, and listen for a sign:
And still some heart unto some soul doth pine,
(Whose sounds mine inner sense in fain to bring,
Continually together murmuring,) -
"Woe's me for thee, unhappy Proserpine!"