PINK FLOYD

Em 2016 o Royal Mail, comemorando os 50 anos de existência da banda planetária Pink Floyd lança uma feliz série de selos com a capa de alguns dos albúns emblemáticos da banda

Dark Side of the Moon

Dark Side of the Moon

DARK SIDE OF THE MOON -1973

Lançado em março de 1973, é o oitavo álbum da banda.É indiscutivelmente um dos grandes exemplos da cultura popular do século XX ,sendo selecionado em 2013 para preservação no registo nacional da Biblioteca de Congresso, pelo seu significado histórico,cultural e estético.

Em 1973, Portugal vivia os últimos anos da ditadura e já pairava no ar um ambiente de conspiração e urgência pela liberdade amordaçada. Quatro anos antes a humanidade dava o seu passo de gigante, a guerra do Vietname estava no seu epílogo e no final desse ano a sonda Pioneer 10 abandona o sistema solar.

Neste contexto de fim de sonhos e pesadelos, que durante séculos alimentaram o imaginário das pessoas comuns, os Pink Floyd lançam esta obra conceptual que explora os mistérios interiores de cada um.Se a Pioneer e a Apollo cruzaram os limites exteriores da humanidade, também este album sonda, através das suas letras e estética sonora,os nossos medos, sentimentos e anseios.Da morte à alienação, dos conflitos sociais aos paradoxos e interrogações filosóficas intemporais.

É um assombroso exercicio de contemporaneidade e quase 50 anos depois continua a chegar a novos ouvintes com sensibilidades e contextos incomparáveis.Resiste à passagem do tempo , tal como a luz, que chega do universo, e se decompoem na nossa retina, é a única testemunha do um passado que persiste.

A metáfora da luz e do tempo é brilhantemente sintetizada na escolha gráfica da capa como que a antecipar a sua permanente atualidade.

DSOM Tour 1973

DSOM Tour 1973

Live 1972/73

O conceito

"Dark side of the moon" é uma experiência sonora, introspetiva e experimental.Funde sons, palavras e emoções segundo uma fórmula alquimica, perdida na noite dos tempos.Como uma profecia cósmica, irrepetível, que encerra os segredos, não do universo mas da própria humanidade.Desde o primeiro som à última nota, o alinhamento dos 10 segmentos, sem interrupções, evoca os possíveis trajectos emocionais de cada ser humano.Diria que, para além de uma tocante experiencia  sensorial, estamos na presença de um "ensaio filosófico" que sintetiza e explora a condição humana.Do nascimento (Speak to me) à morte (Eclipse) , da inspiração (Breathe) à alienação (Brain damage) ; da tragicomédia do quotidiano ( On the run ) ao drama da existência pessoal e colectiva (Money e Us and Them) , da angustiante incerteza (Time)  à conformada finitude ( Great gig in the sky ) está lá tudo, num lirismo desconcertante e numa melancolia suave e elequoente.

DSOM - Making of

A ARTE DA MENTIRA - William Karel "Dark Side of the Moon"

Em 2002 William Karel, cineasta e documentarista francês estreia, no canal público francês Arte,  um documentário intitulado, no original, "Operation Lune" que na tradução anglo-saxónica se intitulou "Dark Side of the Moon".

Na época em que as redes sociais ainda estavam em fase embrionária não era possivel imaginar o seu futuro poder de difundir realidades alternativas, teorias de conspiração e mentiras de toda a ordem.

Fortemente inspirado na "Guerra dos Mundos" de Orson Welles, Karel monta uma história fictícia, mas altamente credível, que manipula o imaginário colectivo com mestria apresentando a possibilidade de a ida à lua e a respectiva alunagem se tratarem de uma montagem encenada, ao estilo de Holywood, por Stanley Kubrick com o patrocinio do governo dos EUA através dos seus serviços secretos (CIA).

Recorre a artíficios vários para incrementar a verosimelhança desta história rocambolesca, como os depoimentos da viúva de Kubrick e do seu cunhado a quem fizeram perguntas vagas e depois manipuladas, suscitando no espectador a dúvida, ao mesmo tempo que introduz elementos falsos, testemunhas inventadas (com nomes de personagens do filme 2001, Odisseia no espaço).

O resultado final é um exercício de equilibrismo arrojado e divertido, em cima da linha que divide a verdade da mentira. Questiona a própria credibilidade do género documental, confrontando os elementos que lhe conferem a autenticidade, demonstrando que estes são passíveis de manipulação e que nenhuma informação mediática deve ser assumida sem reflexão crítica.

A atualidade de "overdose" informativa sem mediação, a  difusão massiva de falsidades ou verdades transvestidas comprovam a citação de François Truffaut :        " Um documentário é 1000 vezes mais mentiroso que a ficção, onde as coisas são claras desde o início "

PIPER IN THE GATES OF DAWN - 1967

Piper in the gates of dawn

Piper in the gates of dawn

Album de estreia da banda Pink Floyd, lançado em agosto de 1967.Na sua formação original contava com Syd Barrett (vocalista/guitarra) como "frontman" e responsável pela maior parte das composições, Roger Waters (baixo), Nick Mason (bateria) e Richard Wright (teclas).

O termo psicadélico, foi pela primeira vez usado em 1956 pelo psiquiatra Humphry Osmond numa carta dirigida a Aldous Huxley, para descrever os efeitos alucinatórios do LSD (à data ainda legal e a quem se atribuiam efeitos terapeuticos) foi adotado para designar a musica que pelas sua sonoridade e caracteristicas expressivas tinha a capacidade de induzir no ouvinte estados alterados de consciência em tudo semelhantes aos do ácido lisergico.Embora não exclusivo do Pop/Rock foi neste género que música psicadélica mais proliferou.

No seu album de apresentação os Pink Floyd, já conhecidos no meio "underground" londrino assumiram a sonoridade claramente psicadélica que pontuavam com um lirismo bucólico e pastoril muito influenciado pela personalidade de Syd Barrett.

Tudo aquilo soou muito estranho à sociedade conservadora britânica, no entanto já estavam em marcha os vários movimentos de contra cultura do final dos anos 60 e que atingiram a sua plenitude durante toda a década de setenta.

A sua apresentação na BBC em 1967 é ilustrativo da perplexidade e incompreensão com que eram acolhidas pelos media tradicionais.É um documento histórico contundente e hilariante.

Astronomy Domine

O som dissonante, acompanha letras, também elas sem, aparente, coerência formal, que permite uma liberdade interpretativa em conssonância com o estado de espírito e individualidade do ouvinte.É a uma viagem sonora que nos permite flutuar no espaço e mergulhar na vertigem sensorial, para além da consciência.

BBC one 1967

INTERSTELLAR OVERDRIVE

É um dos mais icónicos temas da banda e um dos primeiros temas de improvisação instrumental da história do Rock.Estruturalmente complexo com mudanças de ritmo, acordes dissonantes e segmentos de improviso que lhe conferem um experimentalismo musical mais proximo do jazz e da sua textura cromática do que que um tema rock clássico. A singularidade e "estranheza" do tema, que Roger Waters apelidou de abstrato, arrebata-nos da mesma maneira que uma tela de Kandinsky ou Miró.

Os vários registos do tema, de estúdio e ao vivo, com diferentes durações , permitem, na audição comparada, perceber que cada um tem elementos únicos, improvisos improváveis e variações alternativas tornando cada um deles único e irrepetível.

Deixo aqui três desses registos, com e sem Syd Barrett, que testemunham a originalidade, a anarquia sensorial e a liberdade creativa de cada um dos elementos que um qualquer insondável designio cósmico decidiu juntar numa banda incomparável.

Live Estocolmo 1967

BBC England 1968

Fillmore West - 1970

INTERSTELLAR OVERDRIVE - LEGADO

O surgimento do Rock`n`roll, em meados da década 50, simplificando os códigos expressivos e a linguagem musical, torna-a acessivel a toda uma população não educada musicalmente.Quase em simultâneo, também nos Estados Unidos, o fenómeno editorial dos "comic books" permite o acesso a largas camadas da população, maioritariamente iletrada, a estórias ilustradas de herois fantásticos e infantis que geram sonhos e emoções antes só disponíveis na literatura, no teatro e em menor escala na tradicão oral.De Disney a Stan Lee, do Rato Mickey ao Homem-Aranha, a emoção e o sonho passaram a fazer parte do quotidiano das crianças e adultos de toda a América do Norte.

A par de outras manifestações culturais (ex cinema) que ganharam espessura nas décadas que sucederam a 2ª grande guerra, grande parte daquilo a que atualmente designamos por Cultura Popular tem as suas raízes nesse período temporal do século XX.

É com alguma preplexidade, ou talvez não, que nas duas primeiras décadas do ultra tecnológico século XXI, assistamos a um regresso às origens dessa mesma Cultura Pop e assistimos, em formato HD/3D/IMAX , ao renascimento das mesmas personagens e estórias que nos "quadradinhos" dos anos 60, e décadas seguintes,inspiraram os sonhos de gerações de "Nerds"

Veículo fundamental da cultura contemporânea a televisão e o cinema fundem as diferentes manifestações apresentando ao consumidor cultural um formato condensado, "pronto a comer" .Os filmes, séries de TV e videojogos são aglomerados de referencias passadas, muitas vezes imperceptíveis, obliterando todo o legado e diversidade cultural.O desafio apaixonante da descontrução e restauro desse legado é a sua fruição original e refazendo o trajeto até à atualidade  que permite que olhemos com redobrado e renovado prazer para aquilo que achavamos já esgotado.

A improvável associação da personagem da Marvel e os Pink Floyd fará mais sentido nos dias de hoje que na altura do lançamento de "A Saucerful of Secrets"

Para quem nunca ouviu o album, ou viu o filme : boas audiovisões

CULTURA POP

The Wind in the Willows - Kenneth Grahames

O título do primeiro album dos pink Floyd - "Piper in the gates of dawn" foi retirado do capítulo VII do romance infantil de Kenneth Grahame (1908) "The Wind in the Willows".A ideia partiu de Syd Barrett, que decidiu assim homenagear um dos seus romances favoritos.Partindo da atmosfera do conto infantil podemos, com alguma imaginação, melhor perceber algumas referencias e o ambiente lírico do album

Adaptação para televisão - 1995

ANIMALS -1977

Animals 1977

Animals 1977

O décimo album da banda sucede a "Wish you were here" que definitivamente lança os Pink Floyd para o estrelato internacional.No espaço de 10 anos passam do "underground" londrino, e de atuações para centenas de fãs, para concertos com dezenas de milhares em estádios e tournés à escala planetária.

Roger Waters já vinha assumindo um papel preponderante no grupo, após a retirada definitiva de Syd Barret,mas o seu protoganismo é mais premente na concepção e produção de "Animals".É à semelhança dos 2 anteriores ("Dark side"e "Wish you were here") um álbum conceptual.No entanto este assume uma clara viragem no conteúdo e na mensagem.Em 1977 o Reino Unido estava mergulhado numa grave crise social e economica com elevados indices de desemprego, inflação e agravamento da desigualdade social a que se soma um panorama internacional dominado pela Guerra Fria e pela incerteza quanto ao futuro coletivo.Culturalmente a emergência de movimentos de contra cultura, como o Punk Rock, acentuavam a tensão social e o confronto.Por fim os Pink Floyd sofriam as dores de crescimento, com conflitos de egos no seio da banda (que culminou com a saída de Richard Wright 2 anos depois) e as acusações de banda acomodada e rendida ao poder económico, movida por algumas figuras proeminentes do movimento Punk, com Johnny Rotten (Sex Pistols) à cabeça.

 Em resposta a este ambiente crispado e amargo os Pink Floyd produzem "Animals", um álbum que  agarra nesses sentimentos ,exógenos e endógenos, e os condensa em 41 minutos de critica feroz às sociedades ocidentais contemporâneas que se dividem em 3 classes, os Porcos (Pigs) , os Cães (Dogs) e as Ovelhas (Sheeps), que nesta fábula sonora correspondem aos políticos autocráticos e sem escrúpulos, os homens de negócios predadores e egoístas  e as classes trabalhadoras, rebanhos alienados seguidores dos falsos profetas.

ANIMAL FARM - George Orwell

Em 17 agosto de 1945, George Orwell publica a sátira política " Animal Farm" ( Triunfo dos porcos na tradução portuguesa) onde nas suas próprias palavras tentou "fundir os propósitos políticos e artísticos num todo coerente".Para isso usou o artificio literário da fábula alegórica onde o conjunto dos animais de uma quinta se revoltam e expulsam o seu dono, e tentam construir um novo modelo de sociedade igualitária com os benévolos propósitos de atingir a felicidade e liberdade para todos.O desenvolvimento resulta na traição desses propósitos e no estabelecimento de uma sociedade opressiva e totalitária onde os porcos triunfam e subjugam os restantes animais.Cada episódio e personagem espelha os acontecimentos, e os protagonistas que levaram à fundação e consolidação do estado totalitário, estalinista da URSS.

Roger Waters, inspira-se nesta obra para desenvolver a sua fábula musical. Embora faça uso, em jeito de referência implicita, de personagens semelhantes - os porcos, os cães e as ovelhas, dá-lhes novas significâncias, com o mesmo propósito da crítica feroz ao modelo de sociedade capitalista.A tentativa de fazer equivaler as democracias capitalistas ocidentais aos regimes totalitários comunistas sempre foi o argumento maniqueista dos defensores dos regimes comunistas.Não penso que tenha sido esse o propósito dos Pink Floyd quando lançaram "Animals" , ainda assim colagem mais ou menos explicita à obra de Orwell, em plena Guerra Fria,  com certeza lhes terá trazido algumas críticas.Se Orwell assume claramente a tentativa de uma "obra de arte politica", o mesmo não podemos dizer que essa era a pretensão de Roger Waters. Quando ouvimos "Animals" percebemos a tomada de posição ("statement") individual mas não o propósito do ativismo político onde o objetivo principal seria a mudança da sociedade através da arte.

ROGER WATERS

Após a saída de Syd Barrett da banda, em 1968, Waters foi assumindo progressivamente o papel de lider da banda.Esse protagonismo tornou-se incontestável a partir da produção e lançamento de " Animals" onde é responsável creativo,  compositor e autor das letras de todos os temas do album, com excepção de "Dogs" onde Gilmour é co-autor.Até à sua saída da banda, em 1985, são editados os icónicos "The Wall" e "Final Cut" onde a impressão digital de Waters é incontornável.

Personagem polémica nas suas tomadas de posição públicas, no seu ativismo e nas relações interpessoais


A personalidade vincada e intransigente colidia com as dos restantes membros, o ambiente dentro da banda foi-se tornando cada vez mais intolerável culminado a saída de Waters e com uma disputa juridica só resolvida em 1987 num acordo extra judicial que permitia acesso aos direitos autorais e conceptuais de "The Wall" e à utilização em concertos do porco insuflável de album "Animals".

Produziu também vários albuns a solo e apresentou em concerto "The Wall" em mais que uma tournee, assim como outros "tour" onde executa temas dos Pink Floyd da sua autoria.Abaixo destaco 3 atuações ao vivo onde se apresentam o 3 temas centrais do álbum "Animals" e onde se percebe que, apesar das mais de 4 décadas passadas, que os Porcos e Cães continuam por aí , assim como as Ovelhas seguem idolatrando os profetas digitais...

Dogs

Roger Waters (Us & Them Tour) 2018

Pigs (Three Different Ones)

Roger Waters outubro 2016 - Cidade México

Sheeps

Roger Waters - Rock in Rio 2006

WISH YOU WERE HERE - 1975

Wish you were here 1975

Wish you were here 1975

Nono álbum de estúdio da banda, lançado em setembro de 1975.Sucedeu a "Dark side of the Moon", tendo sofrido, por comparação com a obra prima anterior, algumas críticas sendo apelidado de desinspirado e de qualidade sonora inferior.O tempo e a audição mais distanciada vieram a conferir o reconhecimento devido.É uma obra madura e que consolida a qualidade e caracteristicas inovadoras da banda.Gilmour e Wright não tem pudor em considerar tratar-se do seu album favorito.A critica atribui-lhe o apelido de um dos grandes albuns de sempre.

É um álbum igualmente conceptual (o segundo) e ao mesmo tempo um tributo a Syd Barret, fundador da banda e que a abandonou em 68 por doença mental. É composto por 5 temas dois deles " Shine your crazy diamonds" e "Wish you were here", dedicados a Syd Barret,  são "patrimónios imateriais da humanidade" pela sua qualidade lírica,  complexicidade melódica e harmónica e pela profundidade intimista das suas letras.

Os outros 2 temas "Have a cigar" e "Welcome to the machine" são criticas acutilantes e contundentes há indústria discográfica e do "showbusiness" que, segundo Waters, atropelam a sensibilidade artística, a individualidade e humanidade do autor na sua busca desenfreada pelo lucro.

Em 2012 é lançado em DVD/BlueRay o documentário "The Story of Wish you were here" onde se aprofunda o conhecimento das várias dimensões desta obra icónica 

SYD BARRETT

Elemento fundador e " frontman" da banda até 1968, altura em que a abandona devido a doença mental.É-lhe prestado neste ábum o tributo merecido, e que, ao mesmo tempo, funcionou com expiação do seu sentimento de culpa colectivo.Desencadeada ou motivada pelo o uso continuado de alucinogénios (LSD e anfetaminas) a sua condição mental impedia Syd de se manter no seio da banda e contribuir no desenvolvimento do projeto, em grande parte inciado por si.Por isso a banda teve de prescindir da sua participação nos concertos e posteriores projetos de estúdio.O sentimento de perda profunda,o vazio irremediável e a incapacidade de reverter a evidente deterioração mental são como que condensados nesta obra, melancólica, ácida e suavemente desesperada.

Roger Keith Barrett, foi o 4º dos 5 filhos de uma familia de classe média, abastada, de Cambridge.O pai,Arthur Barrett, era um eminente patologista, cuja a morte teve um impacto emocional significativo no então adolescente Roger (16 anos).Cedo desenvolveu aptidão para criação artística sendo o desenho e a escrita as suas áreas favoritas.Ainda assim aprendeu piano e vários instrumentos de cordas, adquirindo a sua primeira guitarra aos 14 anos.Por volta dessa idade adoptou a alcunha artistica de Syd por influência de um antigo baixista jazz de Cambridge - Sid "the beat" Barrett.

Aos 16 anos formou a sua primeira banda, Geoff Mott and the Mottoes, impulsionado pela mãe, como forma de superar o desgosto pela perda do pai.

The Pink Floyd and Syd Barret Story - BBC 2001

Em novembro 2001 a BBC transmite o documentário : "The Pink Floyd and Syd Barret story" que segundo a sua irmã, com quem viveu até ao seu desaparecimento em 2006, Syd terá assistido e terá comentado que seria demasiado barulhento ("too loud")

LONDON UNDERGROUND

Em 1964 entra na Camberwell College of Arts, em Londres, para estudar pintura.As suas leituras incluiam os Contos de Grimm, Tolkien e I-Ching (Livro das mudanças - obra literária clássica, ancestral chinesa) que inspiram os ambientes místicos e etéreos das primeiras criações originais da banda Pink Floyd.As primeiras atuações ocorreram no recém inaugurado espaço de concertos UFO, de onde rapidamente se tornaram a banda residente.O sucesso foi tão estrondoso que foram convidados a tocar Roundhouse, casa rival da UFO, inaugurando-se a era da "London Underground Music Scene" , onde os Pink Floyd e a sua música "psicadélica" eram cabeça de cartaz.


UFO Club

Tonite Let`s All Make Love In London

Pete Whitehead (1967)

London "66-67"

John Edginton

Video de lançamento do EP

Primeiros anos : Syd/Gilmour

DEMASIADO BRILHANTE (1968 -2006)

LEGADO E TRIBUTO


Apesar de já não fazer parte da banda nem ter tido qualquer papel na concepção do album a sua presença espectral atravessa o álbum como uma assombração melancólica e subversiva.O sentimento de culpa dentro da banda deixou marcas, durante demasiado tempo os restantes elementos da banda esconderam-lhe a decisão de o afastar da banda ao ponto de Wright, com quem Syd vivia então, lhe dizer que ia comprar cigarros sempre que saía para concertos.Quando regressava. várias horas depois, encontrava-o na mesma posição, sentado com o cigarro completamente queimado entre os dedos.Quando emergia do seu estado "catatónico" perguntava a Wright se tinha comprado os cigarros.

O episódio da visita de Syd ao estudio de gravação, em Abbey Road, relatado por Roger Waters durante as gravações de "Wish you were here "foi ilustrativo dessa omnipresença, quase mística, que se refletiu no espirito da banda e na atmosfera pesada que rodeou as gravações.


Em 6 de abril de 1968 é oficialmente anunciada a saída de Syd Barrett da banda Pink Floyd.Durante o ano seguinte Syd esteve ausente do olhar do público lutando com os seus demónios interiores.De 1969 a 72 produziu e editou um single "Octopus" e 2 álbuns a solo : "Madcap Laughs" e " Barrett".Até 2006,ano em que morre vitima de cancro pancreático, surge muito esporadicamente em público, levando uma vida anónima na companhia de sua mãe.


Syd foi um ser, demasiado humano, cuja sensibilidade e singularidade extravazaram os limites impostos pela sociedade da época, que, irónicamente, também os Pink Floyd se propunham a transpôr.Talvez essa consciência culposa seja o catalisador que inspirou "Wish you were here" e mais tarde a ópera-rock "The Wall"






























" Remember when you were young, you shone like the sun.

  Shine on you crazy diamond.

  Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky."

  (...)


" How I wish you were here

  We're just two lost souls

  Swimming in a fish bowl year after year"

  

   



     

ATOM HEART MOTHER - 1970




Atom Heart Mother 1970

Quinto álbum de estúdio da banda, lançado em outubro de 1970.Sucedeu a Ummagumma, lançado no ano anterior.Foi o primeiro album da banda a atingir o número 1 na tabela de vendas do Reino Unido, no entanto, e apesar do seu sucesso comercial é assumido pelos elementos da banda, Gilmour e Waters principalmente, como um dos trabalhos menos conseguidos.Roger Waters declara mesmo que é um álbum "horrivel e embaraçoso".No inicio da década de 70 os Pink Floyd eram já uma banda com alguma notoriedade no Reino Unido e europa continental, mas ainda não tinham atingido a notoriedade global alcançada alguns anos depois (1973) com o lançamento de DSOM.

Nesta fase da sua carreira, dominada pelo experimentalismo e procura de novos caminhos,sofriam com a perda do génio  de Syd, enveredaram por um processo creativo que previlegiava a sintese do rock com outras correntes musicais como o Folk, o Jazz e a música sinfónica através da adopção das suas técnicas de instrumentação e composição.Estes eram os elementos fundadores do que seria então, e para a posteridade apelidado de Rock Progressivo ou sinfónico.Os Floyd não foram pioneiros desta corrente musical mas a sua necessidade de explorar novas sonoridades e recursos liricos rapidamente os colocou na vanguarda desta efémera tendência musical que teve o seu auge nos primeiros anos da década de 70.

É seguramente um dos albuns onde o melhor assenta o rótulo de "Prog-Rock album" .O lado 1 é totalmente preenchido pela longa peça instrumental (suite de 24 minutos, dividida em 6 andamentos) que dá nome ao LP - Atom Hearth Mother.

As actuações ao vivo eram um pesadelo logistico envolvendo a colocação em palco de secções de metais completas e por vezes coros com dezenas de elementos.

Atom Heart Mother e o cinema


Antes de iniciarem os ensaios preparativos para o álbum os Floyd aceitaram o convite de MichelAngelo Antonioni para colaborar na banda sonora do filme "Zabriskie Point" , que se revelou pouco produtiva e foi interrompida antes do tempo, pois o realizador rejeitava recorrentemente as propostas da banda.Dessas sessões de gravação em Roma resultou materia musical que posteriormente seria rearranjada e aproveitada para originais.

A relação dos Floyd e nomenadamente deste album com o cinema não fica por aqui.Stanley Kubrick pediu permissão para utilizar a música título do album no seu filme "Laranja Mecânica", o que a banda recusou pois Kubrick não sabia que partes utilizaria nem como.Ainda assim é possível identificar a capa do album numa das cenas do filme rodada numa loja de discos.

Em 2015 estreia no Festival de Berlim o filme iraniano, dirigido por Ali Ahmadzadeh, "Atom Hearth Mother " ( filme não disponível na web)

ZABRISKIE POINT

Localiza-se no Parque Nacional do Vale da Morte, na Califórnia, mais precisamente a este do referido vale.O seu nome deriva de Christian Brevoort Zabriskie, vice presidente da empresa mineira Pacific Coast Borax Company que explorava as minas de borato de sódio anidro (Borax) no Vale da Morte.A paisagem inóspita moldada por milhões de anos de erosão e aridez extrema foi fonte inspiradora de cineastas e artistas visuais que aí procuravam paisagens extra-terrenas como pano de fundo das metáforas apocalípticas morais ou ficcionais.Entre os cineastas que procuravam os ambientes extremos que melhor retratavam a aridez da alma encontra-se MichelAngelo Antonioni que lá filmou as cenas emblemáticas do seu "Zabriskie Point" (1970).

Também Ansel Adams (1902-1984) ,o grande fotografo da paisagem americana, cujas exposições monocromáticas reinterpretam a natureza tornando-as lugares miticos habitados por sensações e atmosferas sobrenaturais ou, melhor dito, supranaturais, transformou esta paisagem,de milhões de anos de sedimentos imutáveis, num local vivo e móvel pela mutação da permanente luz e a manipulação laboratorial da mesma operada pela sensibilidade do mestre Ansel.Deixo aqui 2 videos, o primeiro de 1958 onde Ansel colabora diretamente, em jeito de autobiografia filmada.O segundo de 2002 é um profundo documentário onde para além da biografia se mergulha no seu trabalho na sensibilidade da sua obra.

DIVISION BELL - 1994

Em março de 1994 é lançado a 14ª compilação de originais da banda.É o segundo album após a saída de Roger Waters que ocorreu em 1985.Sucede a " A Momentary Lapse of Reason" editado 7 anos antes (1987).

Gilmour assume a quase totalidade das letras dos temas do album em parceria com Polly Samson, escritora e jornalista na altura noiva de Gilmour. Richard Wright assume com Gilmour a composição musical da maioria dos temas, regressando oficilamente aos Pink Floyd após ter sido "despedido" por Waters.

Contrariamente aos registos anteriores da banda este não é um album conceptual em sentido estrito ainda assim há uma ideia transversal ao album que é a importância da comunicação como valor fundamental na resolução dos problemas e conflitos tanto pessoais como globais.No entanto a banda ainda vivia na ressaca do prolongado litígio com Waters que culminara em 1987 com um acordo judicial.Apesar do acordo mantinha-se a distância pessoal e uma animosidade insidiosa só resolvida décadas mais tarde, já no século XXI. A instrumentação e as letras invocam ao mesmo tempo a nostalgia e a "paz cansada" sentida após uma longa jornada de glórias e desencantos.Poder-se-ia afirmar que "Division Bell " é uma especie de "testamento musical" onde já não há uma procura pela inovação, pelo desbravar de novos caminhos na música comtemporânea.Há sim, um olhar contemplativo ao seu legado, uma síntese das suas múltiplas vidas passadas, mas com atenção crítica ao presente e à conturbada década de noventa.


A euforia global decorrente da queda do Muro (de Berlim)  que dividia a Europa, em novembro de 1989, rapidamente se dissipou com o desmembramento da Jugoslávia e a eclosão, em 1991,da sangrenta guerra entre "irmãos".É neste contexto que "Division Bell " se apresenta como voz da angustia e da incapacidade de promoção do diálogo e da concórdia.

Ao longo da década de 80 os Floyd entram em hibernação e o panorama musical europeu e americano transfigurou-se. O Disco Sound, o Punk e o  New Wave entre outras correntes musicais dominavam as preferencias dos meios de difusão da altura. O experimentalismo e a pureza artística tão caros aos Floyd fora substituído pelo Rock comercial orientado pelas empresas discográficas e os canais FM com a ditadura das "playlist" e a formatação massificadas dos temas aí tocados.A década de 90 abre com a consolidação do Grunge, movimento musical, nascido no final da década anterior em Seattle, que rapidamente se tornou num movimento de contra cultura dominado pelo cinismo, a alienação social e isolamento pessoal.A sua estetica sonora despojada e a atitude crua e desleixada opunha-se radicalmente à dos Pink Foyd, depurada,conceptual e rigorosa.É a esta fratura com a modernidade, no que respeita ao panorama musical,cultural, mas também social que Division Bell alude, mas onde também se vislumbra o desencanto e o reconhecimento da nostalgia da passagem inexoravel do tempo.


ENDLESS RIVER - 2014

Décimo quinto, e último,  álbum da banda Pink Floyd, reduzida, após a morte de Richard Wright em 2008, a Guilmour e Mason. Editado 20 anos depois de Division Bell compila maioritariamente, material gravado em 1994 e que não haviam entrado em Division Bell É um duplo álbum constituído por faixas instrumentais e atmosféricas. Apenas uma das faixas, "Louder than words" incorpora letra escrita por Polly Samson e interpretada por Guilmour.