"There is a kind of lazy pleasure in useless and out-of-the-way erudition" - JLBorges Arte,história,ciência e cultura em pequenos rectângulos perfurados
A descoberta e conquista do extremo sul está cheia de pormenores épicos e dramáticos que ganham maior espessura quando nos detemos em cada uma das personagens que as viveram.Worsley, marinheiro e aventureiro neozelandês é um daqueles personagens cuja dimensão humana ultrapassa os limites da ficção.Nascido em Akaroa em 1872, cedo respondeu ao apelo dos mares.Participou em várias campanhas marítimas durante a primeira guerra mundial, comandando Q-ships (vasos de guerra camuflados de navios mercantes cujo objetivo era afundar submarinos inimigos) e fornecendo apoio à força expedicionária britânica no norte da Rússia.Mas foram as expedições à Antártida com Ernest Shackleton que puseram à prova todas as suas capacidades de navegação e heroísmo.
O encontro de Worsley e Shackleton é digno de um romance de aventuras.Como qualquer "lobo do mar" que se preze Worsley era profundamente supersticioso e consta que após uma noite mal dormida sonhou que navegava o seu navio pela rua Burlington cheia blocos de gelo.Na manhã seguinte dirigiu-se à rua Burlington onde um cartaz afixado numa porta lhe chamou a atenção.Este anunciava o recrutamento para a Expedição Imperial trans-antartica.Ao fim de poucos minutos de reunião com Shackleton (líder da espedição) foi contratado como capitão do Endurance
O pesadelo premonitório concretizou-se.Em 5 de dezembro 1914 o navio expedicionário Endurance abandona a ilha de Georgia do Sul em direção ao Mar de Weddel, onde se deparou com placas flutuantes de gelo que atrasavam a progressão do navio(tal como no sonho da rua de Burlington).Em janeiro de 1915 o navio encalha no gelo. A preseverança, tenacidade e dotes de navegante vieram ao de cima após o afundamento do navio expedicionário Endurance em 28 outubro.Worsley navega os 3 botes salva vidas, com toda a tripulação até à ilha Elefante, ao largo do Mar de Wedell.Daí conduz o bote salva vidas James Caird com uma pequena tripulação , sem condições minimas de navegação sob meterologia extrema e mar aberto, por mais de 1000 km até à Georgia do Sul em busca de auxilio na estação baleeira aí sediada.